Nossa querida Pátria Amada BRASIL tem certas coisas que causam espécie. Já perceberam como existem certas portas que se abrem com certa facilidade para portadores de certos papéis especiais e se cerram a sete chaves a quem não possua os tais ditos cujos?
Uma vez formado em engenharia, lá pelos idos de muito pratrasmente, comecei a notar a maneira como era recebido em certos locais pelo simples fato de ser portador de um tal papel desses que dizia que eu era um cara formado em alguma coisa. Era um tal de salamaleques e mesuras para tratar e receber o “doutor” que chegava mesmo a constranger.
Incrível como o tempo passou e a sensação continua a mesma.
Será que é cisma minha ou as pessoas continuam a ser julgadas pela quantidade de papeizinhos que conseguiu amealhar ao longo da vida ao invés de sê-lo por seus exemplos de conduta, seu caráter, suas conquistas e suas realizações? Sob minha humilde ótica, esta é mais uma forma de discriminação. Seria uma tal de discriminação culturo-tecnológica.
Perece estar enraizada em nossas tradições a mania de chamar de doutor e render todas as honras a quem tiver tido o privilégio de se graduar em algum curso superior. Cansei de encontrar pela vida afora pessoas altamente capacitadas que não eram portadoras dos tais papeizinhos mágicos e davam verdadeiras aulas em pseudo “doutores” despreparados. Tremenda hipocrisia este tipo de tratamento diferencial.
Aliás, o que seria da pobre teoria sem a companhia, a colaboração e a cumplicidade da preciosa prática?
Fico cá pensando com os meus botões o que seria de todos os recém formados de todos os cursos, que resolvessem acreditar que a escola, sozinha, tivesse conseguido lhe oferecer TODAS as armas possíveis para enfrentar a dureza do dia-a-dia profissional pós-acadêmico. Acho mesmo que seria importantíssimo introduzir rapidamente uma cadeira nova em todas as grades: Introdução à Humildade.
Coleguinhas formados, sempre é hora de tirar a máscara e entender que nossa teoria jamais será tão poderosa que possa, simplesmente, prescindir da prática, da experiência, da vivência, do calo no cotovelo oferecido por quem já tenha uma quilometragem a ser aproveitada e respeitada.
Teoria e prática são mais uma daquelas misturas perfeitas, como as famosas: goiabada com queijo, macarrão com parmezon, champanhe com caviar, praia com sol, montanha com neve, pinga com limão, café com pão e manteiga…
Foto: Angelim
Pode ser mesmo uma questão de cultura-tecnológica, porque em muitos países há grande valorização da experiência profissional, vivências culturais; mas aqui o doutor ainda vale mais…bem mais…