Durante grande parte de minha vida tive contato bastante íntimo com a matemática e agora, iniciando o período da terceira idade, não poderia ser diferente.
Como professor de algumas “matemáticas” que compõem as grades dos cursos de engenharia, tenho mais uma vez a possibilidade de consumar a iniciação de jovens sonhadores que chegam ao curso superior com sérias deficiências de conteúdo aliadas a um terror crônico daquela que, injustamente, recebeu o título de “matéria mais apavorante do mundo”.
Uma diferença básica precisa ser considerada seriamente entre a matemática e as demais disciplinas: ela precisa ser apresentada e assimilada de maneira gradual e contínua e exige certos conhecimentos anteriores antes de permitir os avanços e os upgrades aos temas mais evoluídos.
Este pequeno detalhe é capaz de explicar o grande “bicho-de-sete-cabeças” em que se transformou a matemática e demonstra cabalmente a necessidade de bons “tios” e “tias” no início da caminhada escolar de nossos meninos e meninas, a partir dos cursos pré-primários e do ensino fundamental.
Outras disciplinas permitem uma variação quase aleatória de temas mas a matéria tema deste nosso comentário, ao contrário, exige uma sequência sistemática e gradativa já que certos conceitos necessitam de outros anteriores para seu perfeito entendimento.
Apesar de toda a rigidez e exatidão de seus resultados, quando aplicada à engenharia, a matemática assume um posicionamento relativo e menos exato do que exigem os puristas.
A engenharia trabalha sempre com a figura da margem de segurança, que se utiliza de resultados aproximados suficientes para garantir a segurança e o funcionamento das obras.
É comum alunos perguntarem sobre o nível de exatidão de certos resultados e aí entra em cena uma famosa frase que circula há décadas nos meios acadêmicos: engenharia nada mais é do que a soma de regra de três e bom senso.
Fica claro quando comparamos a exatidão de resultados entre a construção de uma estrada entre duas cidades e a de uma engrenagem de relógio. No primeiro caso, alguns metros de diferença não seriam significantes enquanto que no segundo exige-se precisão da ordem de frações de milímetro.
Alguém poderia imaginar uma informação tipo: a distância entre as cidades A e B é de 18.784,73 metros, ou seja, dezoito quilômetros, setecentos e oitenta e quatro metros e setenta e três centímetros? Risível, não?
A lição que fica é a seguinte: A qualidade de uma informação depende mais de sua utilidade do que de sua precisão.
Precisamos aprender a avaliar até quando devemos ir em nossas intransigências e aceitar mais os “erros”, que podem ser tremendos instrumentos para se alcançar o colimado objetivo do sucesso.
Einstein esta mais certo do que nunca ao nos ensinar que, na verdade, tudo é relativo.