Recordar é viver…
Durante todo o ano de 2008, recebi meus honorários de professor universitário através de uma conta salário de um determinado banco(estatal) e mensalmente, nas datas dos respectivos recebimentos, utilizando uma prerrogativa legal, compareci ao caixa do banco para solicitar uma transferência para minha conta corrente em outro banco(também estatal, coincidentemente). Estas transferências, sobejamente conhecidas como DOC, foram feitas sem ônus, normalmente, durante todo o ano, como determinava (e determina) a lei.
Muito bem!
Bastou começar 2009 para também começarem as surpresas.
Cumpri o ritual costumeiro, compareci ao caixa e fui informado que teria havido uma alteração nos procedimentos e que eu teria de, alem de pagar R$15,00(quinze reais) pelo DOC, comparecer ao RH de minha empresa contratante e solicitar que fizessem eles mesmos, diretamente o depósito de meu salário em minha conta corrente e, não mais em minha conta salário, como até então.
Lá fui eu, cordeiramente até o Departamento de Relações Humanas fazer a solicitação sugerida pelo banco e recebi um papel com as instruções sobre o que deveria, “verdadeiramente fazer”, ou seja, comunicar o banco meu desejo de ter meus parcos recursos salariais transferidos para minha conta corrente em outro banco, etc, etc e que esta providencia caberia exclusivamente ao banco detentor da conta salário e não ao RH da empresa empregadora.
Obedientemente voltei ao banco e, depois de uma fila daquelas que todos conhecemos, fui orientado a fazer uma carta endereçada ao banco oficializando este nosso desejo, ou seja, nada de conversa, tudo no papel. Não desisti.
A semana havia terminado e, assim que foi possível, fiz a tal carta levei-a ao banco logo na segunda-feira, mas solicitando o protocolo do gerente que não teve alternativa senão aceitar mas informou que estaria encaminhando ao seu departamento jurídico para análise e considerações, blá, blá, blá… Após uma semana ainda não tinha qualquer retorno sobre a solução do impasse. Dentro de mais alguns dias sairia o pagamento de mais um mês de salário e, pelo andar da carruagem, o jogo de empurra parecia continuar, a despeito de todas as providencias que fui orientado a tomar pelos dois lados.
Enfim, quando se trata de direitos de cidadãos e trabalhadores, parece que não existe(e se existe não transparece) nenhuma preocupação em resolver o problema mas sim, devolve-lo ao próprio interessado para que encontre sozinho alguma solução.
De saldo, ficava apenas a desagradável e nada confortável, nem justa, sensação de se sentir uma verdadeira bolinha de pingue-pongue.
Em tempo, devo confirmar a bem da verdade que, assim que tudo foi colocado no papel e protocolado, a solução foi encontrada em tempo recorde e acabei recebendo aquele meu salário iminente já diretamente na conta pretendida, devidamente transferido sem custo. Moral da história: O RH estava certo e o banco tentava burlar a lei, que conhecia de cor e salteado, imaginando poder se aproveitar da ignorância eventual de seu cliente.
Nós brasileiros precisamos nos dar conta da necessidade de aprendermos a defender nossos direitos com mais convicção. É uma boa forma de começar a praticar cidadania.