Norman Gall, diretor executivo do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, americano que mora no Brasil há 35 anos, concedeu uma entrevista à revista Veja onde, dentre outras constatações interessantes, afirmou que “não é inteligente a maneira como está sendo gerida a infraestrutura nacional”.
Ora, é unânime o conhecimento de que a construção civil é a maior fonte de emprego para a mão-de-obra não qualificada. Outra unanimidade é a de que a esmagadora maioria da infraestrutura nacional se constitui em um mercado diretamente conectado a este segmento da indústria. Desnecessário enfatizar que esta é uma das principais carências brasileiras.
Quem tem o privilégio de visitar outros países constata imediatamente a distância que teremos de percorrer para podermos nos ombrear com outras civilizações atuais. Recuperação de nossa infraestrutura tem sido citada apenas em alguns discursos pré eleitorais e é, disparada, a maior promessa de campanha das últimas décadas.
Entretanto, ao invés de priorizar a melhoria de nossas estradas, de nossos aeroportos, de nosso saneamento básico, nossas autoridades preferem incentivar o consumo e criam um mal sucedido ciclo vicioso de serviços cada vez piores e custos cada vez maiores.
Nosso transporte é o mais caro do mundo. Nossas raras ferrovias, à exceção das particulares privadas, estão sendo sucateadas velozmente. Nossos portos são, a cada dia, menos operacionais, menos eficientes, menos equipados e, logicamente, mais caros. A demora para a descarga é tamanha que, não raro, alguns navios preferem retornar a suas origens a ter de esperar tanto tempo para o descarregamento de seus produtos.
A falta de visão desta obviedade toda faz com que nossos custos operacionais sejam desproporcionalmente caros em relação ao resto do mundo. Outra falta de objetividade é o que se vê na gestão de nosso sistema de educação. Programas e mais programas proporcionando a facilidade de acesso a nossos cursos superiores, têm tomado o lugar da busca pela eficiência dos cursos fundamentais e do ensino médio.
É impossível não ver que o nível dos ingressantes nos nossos cursos superiores, está cada dia mais baixo, com reflexos naturais na qualidade da mão-de-obra que está chegando ao mercado de trabalho. Apenas estes dois itens isolados: infraestrutura e educação são suficientes para justificar nosso posicionamento pífio no ranking mundial.
Reclama-se aos brados das inadimplências em vários setores ao invés de procurar inverter este fluxo perverso da marcha da economia. Precisamos melhorar nossa infraestrutura promovendo início imediato das obras que se fazem necessárias para a melhoria de vida dos cidadãos e também para a consequente redução dos nossos custos de produção.
Esta primeira atitude tem reflexo imediato e proporciona uma queda acentuada no desemprego e injeta no mercado consumidor, recursos novos para o incentivo não subsidiado do consumo. O segundo passo, de resultados mais a longo prazo não é menos urgente: Educação. Nossa escola precisa ser revista e repensada.
É preciso haver um compromisso sério na melhoria da preparação de nossos jovens. Se nossas autoridades de hoje não arregaçarem a primeira manga, nossos netos estarão aqui, brevemente, reclamando das mesmas promessas vãs e da mesma falta de objetividade e de comprometimento.
Você tem toda razão, Dr. Norman: “Esta não é uma maneira inteligente de gerir a infraestrutura nacional”.
“Nossa escola precisa ser revista e repensada”. Corretíssimo digno analista.
Eu cá com meus botões, penso que a grande responsável por este tipo de escola que temos agora foi a mecanicista visão cartesiana(leia-se racionalismo científico; império da objetividade)que embora tenha permitido mandar o homem ao espaço e desintegrar o átomo, abandonou de vez certos “valores”, indispensáveis à formação do ser humano. Vem daí que prefiro pensar que a atual crise do saber, é uma crise de “despertar e crescimento”, como já disse alguém, cujo nome não me recordo. Mas também acredito que o modelo mecanicista precisa, de uma vez por todas, ceder espaço para um novo modelo, o holístico (Holos=todo), que apregoa uma abordagem de transdisciplinariedade, pois a própria física do século XX desvelou-nos um universo vivo, dinâmico, interligado, sistêmico, ou numa só palavra, holístico. Todo estudante, enquanto “pescador de conhecimentos” precisa integrar sua capacidade racional com a intuitiva (coisa que o mecanicismo abomina).A união da ciência com a tradição (sabedoria) é o grande mote da visão holística, pois a ciência nos auxilia a evitar o impasses, os fantasmas e miragens na via do conhecimento, enquanto que a tradição é a memória dos valores da vida anterior, com o rigor de uma permanência, sem a qual tudo poderia perecer no caos e na destruição, disse o grande Nicolescu, se não estiver enganada. A mudança de paradigma, a meu ver, é a única salvação da escola, que hoje forma “especialistas” mas que muito pouco sabem lidar com a vida e com outros seres humanos, estando pois mais fadados ao insucesso pessoal e profissional.
A sua colocação é bastante aceitável mas a linguagem está forense demais. Tenho certeza que poderia ter dito a mesma coisa em duas ou tres linhas e de maneira muito mais direta e didática. Promete tentar da próxima vez?
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