Dia desses, trocando idéias sobre a vida, um grande amigo e eu discordamos sobre um tema corriqueiro e recorrente: a tenra idade em que os nossos jovens precisam escolher a profissão de sua vida. Concordamos que é mesmo muito cedo para se tomar uma decisão que terá forte impacto sobre todo o futuro. Que maturidade e experiência de vida podem ter essas crianças para fazer uma escolha de tamanha magnitude?
Meu amigo achava que a escolha deveria se concentrar no caminho que levasse ao maior ganho possível de dinheiro pois, na opinião dele, tendo dinheiro no bolso as demais dificuldades seriam atenuadas.
Imediatamente me reportei mentalmente ao tempo de magistério onde esta era uma das perguntas que mais recebia dos jovens ingressantes na vida universitária e qual sempre foi a minha resposta, coincidentemente, contrária à do amigo.
Eu argumentava que as expectativas financeiras atuais poderiam mudar completamente durante o período de formação profissional e a balança do mercado de trabalho poderia mudar radicalmente de posição, invertendo totalmente o quadro momentâneo e assim o melhor seria escolher uma profissão que lhe desse alegria e prazer de ser exercida. Ao se trabalhar naquilo que gosta, dizia eu, cada dia de ida ao trabalho seria prazeroso e traria uma boa sensação de felicidade enquanto que acordar todo santo dia para se dirigir a um trabalho desagradável, seria uma tortura diária.
Fazer aquilo que se gosta e se identifica traz satisfação e felicidade, o que aumenta vertiginosamente a chance de sucesso e incremento de produtividade o que leva, na maioria das vezes, ao sucesso também financeiro enquanto que trabalhar naquilo que não se gosta leva, também na maioria das vezes, à depressão, frustração, queda da auto-estima, insucesso e fracasso.
O segredo de tudo é, portanto, acreditar.
Um exercício que eu costumava apresentar a cada uma das turmas onde lecionava estatística, tratava do lançamento de um novo medicamento onde o laboratório fabricante fazia uma pesquisa entre um grupo de portadores da tal doença alvo. Este grupo era separado em dois sub-grupos onde um deles recebia o remédio em desenvolvimento e o outro, apenas um placebo. Evidentemente todos eles acreditavam estar tomando o tal remédio. O laboratório, após a pesquisa, informou que entre os integrantes a quem foram ministrados apenas o placebo, o índice de cura foi superior a 60%.
Mas, se na verdade não tomaram o medicamento, o que os teria curado?
A resposta óbvia é: a fé, a crença, a confiança, a esperança.
O exercício consistia em que a turma apresentasse a quantidade de pacientes curados entre os que tomaram o remédio testado para que se pudesse considerá-lo verdadeiramente eficiente a um determinado nível de confiança.
Aqueles que tomaram o remédio e não se curaram foram os que, mesmo medicados, duvidaram da eficácia do tratamento, aqui também na maioria dos casos.
Isso é a vida. A razão de viver não deve ser a busca incondicional pelo dinheiro mas, sim, da felicidade. Quantos casos conhecemos de pessoas que desenvolveram diversas doenças a partir de quadros de tristeza, melancolia, desespero, depressão, impotência, covardia e desgraças outras de qualquer natureza? Todas essas palavras, nestas circunstâncias podem ser entendidas como sinônimos de falta de fé, falta de confiança, falsos placebos contaminados.
Quantos de nós também conhecem tantos e tantos casos de felicidade, paz e harmonia em lares de mínima condição financeira?
O gostoso desta história é a análise deste meu amigo, protagonista desta reflexão. Conhecemo-nos há pouco tempo mas, contrariamente a outros de larga convivência a longa data, ouve, discorda ou concorda mas não altera o tratamento e nem me recomenda psiquiatra quando acontece alguma divergência. Temos hábitos e experiências de vida bastante divergentes mas mantemos uma convivência agradável e respeitosa mutuamente, como deveria sempre ser.
E então, você, o que acha? O que tem tomado para viver? Remédio ou placebo? Vai saber…..né?